Comentário: Clodoval de Barros Pereira
Vou postar um poema que vem após esse comentário, quem o escreveu foi Antônio de Barros Pereira, chamado carinhosamente de Toinho. Esse poeta era meu tio e irmão do meu pai José de Barros Pereira a quem chamavam de Zeca. Devo acrescentar que da verve de Toinho saíram belos poemas que falavam da dureza da vida e da beleza do amor. E como a maioria dos poetas, era um homem apaixonado e ai de quem não o é… Infelizmente toda a sua criação foi destruída e a humanidade perdeu de beber na fonte da sabedoria de um homem de poucas letras, porém de muito saber.
E é bom lembrar o que muitos diziam: Toinho era um grande filósofo.
Vejamos o poema abaixo que foi preservado por ter caído em minhas mãos. Guardei-o carinhosamente como guardo tudo o que é bom e valoroso.
E para dar mais ênfase ao que digo, antecipo à postagem do referido poema com uma crônica escrita por tio Mário a respeito da obra do seu irmão.
Zeca Barros e o irmão Toinho (de camisa escura)
UM POEMA
Autor: Mário de Barros Pereira
Li um poema intitulado UM DIA, A TRISTEZA de autoria do mano Antonio de Barros Pereira. Em poucas palavras, ele definiu com profundidade, de forma surpreendente, um pouco do seu interior.
Ao longo do tempo, Toinho conseguiu simular alegria, reprimindo a face triste. Evidentemente, trata-se de um detalhe psicológico que escapou à nossa percepção. Meu irmão era um homem alegre e gostava de rir. Em nenhum momento detectamos nele qualquer sentimento de tristeza. É verdade que uma pessoa triste pode sorrir. O riso pode aflorar aos lábios de uma pessoa triste, como uma faceta de uma alegria incontida. A tristeza é preocupante. Podemos até atribuir a um estado psíquico mórbido. O riso é um tônico ameno ao espírito, indispensável à vida; é um sinal de bem-estar e de amor a existência. Rir somente com os lábios é uma encenação motivada por algum efeito material.
Um homem triste é um ser desalentado, refugiado dentro de si mesmo, deixando de viver plenamente e de sorrir com a alma e com o coração. Cada hora que se escoa se vai um pedaço de nós. A tristeza e a solidão são uma ameaça a vida.
José Américo de Almeida escreveu que, “Nutrir o espírito é mais que matar a fome: é renovar a vida” e o poeta J. G de Araújo Jorge mandou que a gente “Sorria, sorria sempre, nem que seja um sorriso triste. Porque mais triste do que um sorriso triste, é a tristeza de não saber sorrir.”
João Pessoa, PB, 25 de Setembro de 1998.
Eis o poema:
UM DIA, A TRISTEZA
Autor: Antônio de Barros Pereira
Um dia, caminhando por uma longa estrada
a fim de distrair as minhas mágoas
uma sombra, de mim, se aproximou…
Olhando-a, indaguei:
– Quem és tu?
E ela, passiva e irreverente, respondeu:
– Sou a tristeza,
sou a tua companheira inseparável.